17 de agosto de 2009

A vida por um fio

É assim, de repente você recebe um telefonema que muda seu dia.
Aquela situação: você para, cancela tudo, esquece dos inadiáveis compromissos e vai ao encontro da despedida.
E é aí que, quando tudo passa, angustiado, se lembra de tantas coisas que deixou de fazer, tantos abraços que deixou de dar, tantos momentos que deixou de registrar, pensando sempre que se, hoje não deu, amanhã dará. Mas pode ser que não dê. Porque essa vida, essa vida que vivemos, vive por um fio. Vive presa num fio. Um frágil fio que pode se romper por pequenos motivos, motivos tão banais e estúpidos que chega a ser difícil de acreditar. De repente, o fim. E pronto, é isso, sem direito a contestações.

Michelle, pequena ma belle, como sempre costumava fazer na hora do bom-dia, uso agora, Beatles, pra lhe bem lembrar,

"that's all I wanto to say
until I find a way
I'll say the only words I know that you'll understand, my Michelle..."

fique bem, onde quer que esteja.

É assim a vida, está assim a vida: por um fio.

16 de agosto de 2009

Tem dias

Tem dias que a gente acorda com o mundo na mão,
tem dias que a gente acorda com medo do mundo, então
tem dias que a gente acorda não querendo acordar e
tem dias que a gente acorda querendo apagar,
tem dia, tem dias...
tem mundos...
tem tanta coisa... e hoje a preguiça é imensa,
o mundo hoje está um saco
por mim descia e ia pra outro lugar.
Ah, ilusão.

12 de agosto de 2009

C'est fantastique!

Sim, é impressionante como uma fotografia que você fez, diz tanto sobre você. E como várias fotografias que você fez, juntas, te dissecam, te exploram, dizem quase tudo sobre você! Me assustei, até.

Mas existe um limite, justamente aquele que define que esta vida é a minha e não a sua. É fácil eu perceber minhas coisas, preferências, ideologias, medos e conflitos nas minhas fotografias. Não sei até que ponto, esse discurso impresso em papel (ou contemporaneamente exposto em pixels) é capaz de dizer coisas que não se saiba a respeito do fotógrafo.

O óbvio surge, claro, é a pele, é o que salta para fora, o externado. Mas o que instiga são as entranhas, o que está dentro e não se conhece. Essa outra parte, só uma conversa com o autor pode resolver. Se não, é tudo conjuntura, especulação, psicanálise de terceira. Na melhor das hipóteses, a conversa confirma as conjunturas e hipóteses. E aí, a fotografia surge novamente como algo "revelador" e encantador.

C'est fantastique!

3 de agosto de 2009

Cecília Meireles

Despedida

POR MIM, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranquilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)

Quero solidão.