27 de junho de 2009

O pop (de fato) não poupa ninguém


"Don't tell me you agree with me
When I saw you kicking dirt in my eye

But, if
You're thinkin' about my baby
It don't matter if you're black or white

I said if
You're thinkin' of
Being my baby
It don't matter if you're black or white

I said if
You're thinkin' of
Being my brother
It don't matter if you're
Black or white"

É, talvez agora ele encontre um pouco de paz.

21 de junho de 2009

"A televisão me deixou burro, muito burro demais..."

Existe uma tendência no jornalismo brasileiro, tendência que tenho observado a um certo tempo, que é a de tratar à exaustão a desgraça humana. Não falo daqueles noticiários à la Datena que tem como proposta este caráter sensacionalista; me refiro ao telejornalismo "brando", aquele do horário nobre, ou das manhãs. Um telejornalismo sensacionalista, doente, masoquista, exploratório. O que querem expor são vísceras e lágrimas. O humano precisa deixar o seu pior exposto em letras e falas. Auxiliada pelo audiovisual, a linguagem constrói a desgraça. Isto deve ser feito diariamente: assim, sendo a televisão, única janela ao mundo de muitas pessoas, esta, sob comando dos telejornais, passa a promover a realização de um mundo mal, que diariamente apresentado às 20:30h, traz durante os intervalos entre os blocos de más notícias, a imagem do belo e agradável, do desejável e tangível: TVs de plasma, carros luxuosos (ou populares), loiras gostosas e loiras geladas, a tão sonhada casa própria, as palavras confortantes do pastor ou do padre.
Não sem razão, nem por acaso, para mim, isto tudo está articulado e faz parte de um plano, um projeto. Este seria a construção de um mundo mal, um mundo onde boas notícias não são (ou o são em minoria) veiculadas. O ser humano se torna este criminoso, culpado, que constrói o mal e necessita paz de espírito; como finalidade do projeto, a aquisição desta paz de espírito, se dá através da satisfação material pessoal: a aquisição daqueles bens tangíveis que os intervalos comerciais (e não somente eles) oferecem; o cartão de crédito é libertador. E o crédito, um tipo de deus.
Mostrar as coisas boas que milhões de pessoas diariamente fazem não cairia bem aos telejornais. Afinal, vivemos em uma época onde a satisfação material pessoal é remédio para o mal estar que diariamente somos obrigados a sentir.
A solução? Construir a realidade por outros meios. De preferência, meios optativos, onde ninguém lhe diga que ser mal é normal (ou "natural") e que comprar nos faz bem. Ou que as coisas mudarão "só por deus".


"Boa" noite.

14 de junho de 2009

O Blur está de volta

É. O britrock também entrou neste movimento revival que tem feito reaparecer de Nenhum de Nós a B52's. Anunciada no ano passado, a volta do Blur trouxe alegria a estes que sacolejaram por aí, onde quer que seja, ao som de Country House ou Girls and Boys. O Blur está de volta e lança amanhã, dia 15, "Midlife: a begginer's guide to Blur". O título já entrega: o tempo passou, todos ficamos mais velhos e é preciso mostrar esta jóia que é o Blur para as novas gerações (e claro, porque isto aqui não é um conto de fadas, faturar umas libras esterlinas). Oba, vamos lá! Isso traz junto uma turnê e fico na torcida para que passe por aqui. Não este ano, seria um disparate: Radiohead, Oasis e Blur num mesmo ano -deixa um pouco do doce pro próximo. Lembro-me do dia em que o Paulão da CD Store, ligou pra mim e pediu para ir lá ouvir "a coletânea" do Blur que tinha saído. É, naquela época, as coisas eram assim, ainda. Fui na loja, ouvi, e claro, voltei com ela pra casa. É até hoje um dos meus mais queridos CDs. A partir dali, eu que tinha escolhido o lado do Oasis na "briga" midiática entre as bandas, larguei dessa tonteira e passei a curtir o Blur e comprar os discos, e virei um fã.


Vida longa ao Blur! Vida longa ao britrock!

12 de junho de 2009

Air France, voo 447

Não aguento mais ouvir falar deste acidente da Air France. Sobre isso quero dizer duas coisas.


Coisa 1

Imagino que deve ser muito difícil dar por morto alguém que ainda não morreu. E neste caso, não morreu, não porque a vida ainda não cessou, afinal, um oceano não costuma poupar quem peixe não é; não morreu porque ainda não existe a prova da morte. A prova seria um corpo, morto, sem vida. Nós, "ocidentais" temos uma relação muito complicada com a morte; a morte torna-se não só o fim da vida, mas o início de um outro tipo de relação com aquela pessoa que já não respira. E talvez, porque ainda reste (algum tipo de) relação, a coisa da morte não pode ser, dada assim, facilmente. Essas pessoas que "morreram" no acidente com o avião da Air France na verdade ainda não morreram. E continuam vivas em dois aspectos: num aspecto burocrático, pois, apesar da maioria dos corpos não terem sido localizados (e nunca serão) elas não foram dadas oficialmente como mortas pois não possuem um registro, uma certidão de óbito; sua vida burocrática ainda pulsa. Permanecem vivas também num certo aspecto psicológico, para seus familiares, amigos. Ainda resta a esperança da ilha, do nado, do milagre. E acredito que esta seja a morte mais difícil de se fazer. Porque quem ama, não quer perder; e não aceita a perda enquanto os olhos não veem a morte representada fria e implacável no corpo sem vida, ou no papel que atesta. Parar de respirar é "apenas" o fim da vida; é o início do processo de morte que cessa com a prova.


Coisa 2

Mas o que me incomoda nesta situação, não é nossa relaçãoproblemática ocidental-judaico-cristã-fantasiosa com a morte não. É esse tipo de show barato, meio decadente, que os telejornais vem promovendo em cima deste assunto: cada corpo, cada destroço encontrados (e aqui corpos e pedaços da fuzelagem do avião equivalem-se simetricamente: representam moeda para um telejornalismo sensacionalista) vira notícia de primeira mão, plantão. O IML de Recife tem sido palco de uma peça teatral protagonizada por telejornais que alocam lá links externos de transmissão, à espera da chegada dos corpos, coisa comum em portas de delegacias à época da chegada de criminosos famosos, sejam eles, traficantes, assassinos, sequestradores, estrelas do crime; a mecânica de um Air Bus virou matéria prima para infográficos diários; especialistas ocupam lugar de destaque nos espaços jornalísticos; nunca vimos na TV tantos especialistas em tempestades, raios e trovões; sem falar "naqueles que sempre perdem o voo" e que aparecem fazendo emocionantes relatos. De segunda a sexta-feira é isso. E como se não bastasse, tudo é recapitulado, exposto novamente às minúcias nos telejornais dominicais, com um toque de fina arte.
A quem interessa tanta informação? O que nos interessa saber sobre o tempo necessário para o descongelamento dos corpos antes das tentativas de reconhecimento? (Corpos estes que são transportados nos mesmos conteineres que transportam hamburgueres para o McDonald's, aqueles da Hamburg Süd; isso ninguém disse, é uma observação minha -e não quer dizer pouca coisa.) Se o reconhecimento será visual (!) ou por DNA? Se o DNA será extraído do sangue, vísceras ou cabelos dos mortos? Se o avião explodiu e depois caiu, ou se caiu e depois explodiu? Ou se não explodiu? deus do céu... deixem essas pessoas morrerem em paz! E deixem seus parentes viverem essa morte no silêncio e reclusão necessários ao conforto, à vivência deste processo. Uma boa ação de nossa parte, seria, desligar a TV. E deixar o velório rolar.

O voo 447 "bombou" no Yahoo essa semana. Mal gosto? Humor negro?