21 de junho de 2009

"A televisão me deixou burro, muito burro demais..."

Existe uma tendência no jornalismo brasileiro, tendência que tenho observado a um certo tempo, que é a de tratar à exaustão a desgraça humana. Não falo daqueles noticiários à la Datena que tem como proposta este caráter sensacionalista; me refiro ao telejornalismo "brando", aquele do horário nobre, ou das manhãs. Um telejornalismo sensacionalista, doente, masoquista, exploratório. O que querem expor são vísceras e lágrimas. O humano precisa deixar o seu pior exposto em letras e falas. Auxiliada pelo audiovisual, a linguagem constrói a desgraça. Isto deve ser feito diariamente: assim, sendo a televisão, única janela ao mundo de muitas pessoas, esta, sob comando dos telejornais, passa a promover a realização de um mundo mal, que diariamente apresentado às 20:30h, traz durante os intervalos entre os blocos de más notícias, a imagem do belo e agradável, do desejável e tangível: TVs de plasma, carros luxuosos (ou populares), loiras gostosas e loiras geladas, a tão sonhada casa própria, as palavras confortantes do pastor ou do padre.
Não sem razão, nem por acaso, para mim, isto tudo está articulado e faz parte de um plano, um projeto. Este seria a construção de um mundo mal, um mundo onde boas notícias não são (ou o são em minoria) veiculadas. O ser humano se torna este criminoso, culpado, que constrói o mal e necessita paz de espírito; como finalidade do projeto, a aquisição desta paz de espírito, se dá através da satisfação material pessoal: a aquisição daqueles bens tangíveis que os intervalos comerciais (e não somente eles) oferecem; o cartão de crédito é libertador. E o crédito, um tipo de deus.
Mostrar as coisas boas que milhões de pessoas diariamente fazem não cairia bem aos telejornais. Afinal, vivemos em uma época onde a satisfação material pessoal é remédio para o mal estar que diariamente somos obrigados a sentir.
A solução? Construir a realidade por outros meios. De preferência, meios optativos, onde ninguém lhe diga que ser mal é normal (ou "natural") e que comprar nos faz bem. Ou que as coisas mudarão "só por deus".


"Boa" noite.

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