12 de dezembro de 2010

Sobre o prazo de validade das coisas

Lê sempre os rótulos. Procura entender do que as coisas são feitas, detalhadamente. De sabonetes a geléias, procura por ingredientes condenáveis, pelo local de fabricação, se longe, se perto, se distrai: levar algo pra casa é tarefa difícil; gosta de ler sobre dados nutricionais, quantidades de calorias, vitaminas, carboidratos. Não que se preocupe com o engordar ou emagrecer do corpo, mas o que coloca pra dentro, lhe interessa. Compara: um em cada mão, troca informações com seus lados direito e esquerdo, escolhe, desiste, vai embora. Lê sempre os olhares, procura entender as mentes, procura encontrar o prazo de validade em tudo, sabe que tudo um dia vence: de barras de cereais a relacionamentos. Nada vencido põe pra dentro. Nada, ainda que mais barato. Pensa, "que fiquem as coisas vencidas pros lados de fora". Porque tudo, insiste, um dia vence. E há sempre um grande perigo em por pra dentro algo vencido, bactérias, fermentação, traição. Tudo vencido tem cheiro ruim, faz mal, faz chorar.
Tudo vence um dia. Tudo vence num dia, num outro dia, vence-se tudo. É uma escolha, ser vencido, vencer.

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