21 de julho de 2009

De par em par

No início dos vinte anos, foi ele em busca de uma terapeuta que lhe indicasse uns florais para aliviar o estresse de um trabalho enfadante; durante a consulta, pergunta vai, pergunta vem, surgiu na conversa sua preocupação com a passagem do tempo. O cara disse:

- Sinto que o tempo vai pular, sei la, de dez em dez anos, e quando eu ver, já estarei com 30, 40, sem perceber... Entende?

Ela, utilizando do conhecimento técnico-científico das coisas da vida que sua profissão de terapeuta em florais de Bach trazia (ou simplesmente usando a situação para fazer uma auto-negação), disse:

- Não se preocupe com isso! Não é assim, você verá, tudo ocorrerá ao seu tempo, essa sensação não existe...

Receitou lá uns florais, deu umas dicas e marcou um retorno que nunca aconteceu.

Ela estava errada. Foi examente como as preocupações dele apontaram. A vida tem andado em saltos e os dias em blocos, me disse.

Lembrou-me do Cazuza: "... as vezes os meus dias são de par em par".

Me disse também que tem se sentido culpado por não perceber o tempo passar. Parece estar sentado na cadeira de um cinema esperando um filme chato acabar, à espera dos créditos e da luz para ir embora.

Fotografia de Henri Cartier-Bresson e o seu "momento decisivo".

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